segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Carta

"Muito depressa, não. Vai-se tornando o tempo estranhamente longo à medida que encurta. O que ontem disparava, desbordado alazão, hoje se paralisa em esfinge de mármore, e até o sono, o sono que era grato e era absurdo, é um dormir acordado numa planície grave. Rápido é o sonho, apenas, quando se vai, de mandar notícias amorosas quando não há amor a dar ou receber; quando só há lembrança,
ainda menos, pó,
menos ainda, nada,
nada de nada em tudo, em mim mais do que em tudo, e não vale acordar quem acaso repouse na colina sem árvores.
Contudo, esta é uma carta."

Carta.
Carlos Drummond de Andrade.

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